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Suspensão de aulas presenciais alavanca ensino a distância no país

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Pandemia de coronavírus ocasionou virtualização das aulas

Em função da urgência imposta pela situação do Covid-19, o setor educacional foi forçado a tomar medidas rápidas para dar continuidade ao aprendizado dos alunos e manter o calendário letivo de 2020.  Instituições de ensino optaram, em sua maioria, por um processo de virtualização das aulas, migrando, na medida do possível, as práticas pedagógicas para o digital. Professores passaram a ministrar as aulas por meio de plataformas online e os alunos e as famílias tiveram que se adaptar ao novo formato. 

É nessa conjuntura que a educação a distância, que já vinha consolidada há pelo menos dez anos no ensino superior, vem ganhando cada vez mais espaço também no ensino básico. 

Jair dos Santos Júnior, professor e conselheiro da Associação Brasileira de Educação a Distância, que tem como propósito apresentar para a sociedade exemplos de boas práticas, ressalta que só agora, após um determinado período de adaptação, o país está assistindo um movimento efetivo, mas ainda limitado, de implementação do EAD, com estruturação e ferramentas propícias para o aprendizado.

De acordo com o professor, é necessário distinguir a educação a distância, que possui uma estrutura específica, com aulas normalmente gravadas e materiais padronizados, do ensino remoto emergencial, adotado no momento.

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"Educação a distância é muito mais do que aulas remotas. É técnica, é ferramenta, é a possibilidade do aluno poder tirar dúvida e ter interação", reforça. 

 Segundo dos Santos, apesar do esforço por parte das instituições de ensino, a realidade no país têm sido muito diferente, afinal não há no Brasil um modelo bem definido para que os jovens do ensino básico possam estudar em casa. O professor alerta ainda em relação à necessidade de um avanço técnico em termos de metodologias e ressalta a importância dos governos estaduais oferecerem modelos sérios de orientação aos professores, pais e alunos. "Há um risco de perda de qualidade se trabalharmos apenas num modelo de aulas remotas. É preciso ter uma estruturação dessas aulas. Não dá pra deixar o EAD ser feito de maneira improvisada", completa o conselheiro. 

 Fabrício de Paula, professor de matemática na rede privada de Campinas, enfatiza que não deve haver comparação do ensino a distância com o que havia sendo feito em sala de aula. "A gente precisa comparar o que está sendo feito com o que aconteceria se nós não estivéssemos fazendo nada", destaca de Paula. De acordo com o professor, foi preciso fazer algo para evitar o retrocesso em relação ao desenvolvimento pedagógico dos alunos.

 "A qualidade do ensino exigia um movimento de introdução de tecnologias digitais, para o qual existia muita resistência", alerta o matemático. Segundo de Paula, os alunos que não estão sabendo aproveitar os recursos que estão sendo oferecidos agora são os mesmos que não sabiam aproveitar os recursos presenciais, com a vantagem de um aluno agora poder revisitar as aulas e ter outras chances de aprender.

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"Eu não acho que a gente tenha perdido qualidade. A gente se adequou a um momento diferente", argumenta.

Estudante de Relações Internacionais na Facamp (Faculdades de Campinas), Enrico Queirazza teve o primeiro contato com aulas remotas em meio à pandemia. Ele classifica a experiência como desafiadora e relata dificuldades em relação ao novo ambiente de estudo. Segundo o graduando, existem muitas distrações dentro de casa que dificultam a concentração.

Queirazza aconselha que os alunos, que tenham a possibilidade, preparem um espaço dedicado aos estudos dentro de casa, seja para os momentos síncronos, como também para os assíncronos. Em sua opinião, isso ajuda na melhora do foco. "Você acaba colocando na sua cabeça que aquele lugar é propício e isso vai te ajudar a ter um rendimento melhor", diz.

Thais Sforsin, mestranda na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), também destaca o foco como uma de suas maiores dificuldade em relação a nova forma de aprendizagem. Ela conta que não tem sido fácil interagir da mesma forma que presencialmente e lidar com as aulas que muitas vezes passam de duas horas de duração.

 

Em contrapartida, Sforsin relata que, apesar dos professores não terem tido tempo suficiente, é muito bacana ver o esforço deles para que as aulas e atividades sejam proveitosas. "Tenho um professor que até gravou podcast. Achei um máximo", pontua. A estudante ainda salienta que poder aprender em casa faz com que reflita a respeito de como será de agora em diante.

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"Sinto que com as aulas remotas está sendo mais desafiador expor as opiniões e dúvidas", enfatiza.

Na contramão dos alunos que possuem condições de dar continuidade aos estudos mesmo de casa, há uma grande parcela da população brasileira que não tem o mesmo privilégio. A falta de internet, equipamentos ou até mesmo um espaço propício para o aprendizado, são alguns dos muitos fatores que afetam as famílias de baixa renda no país. 

 Uma pesquisa chamada "TIC Kids Online 2019", promovida pelo Cetic.br (O Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), revelou que 4,8 milhões de crianças e adolescentes de 9 a 17 anos de idade vivem em domicílios sem acesso à internet no Brasil (17% dessa população), o que representa uma intensificação das desigualdades, pois em tempos de coronavírus e isolamento social, a rede torna-se uma grande aliada no acesso à educação.

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4,8 milhões de crianças e adolescentes

(9 a 17 anos) vivem em domicílios sem acesso à internet no Brasil.

 Com o objetivo de garantir a aprendizagem de 3,5 milhões alunos da rede estadual de São Paulo, o governo implementou um programa de ensino remoto, com videoaulas transmitidas em uma plataforma digital e por um canal aberto da TV Cultura. Mas o projeto preocupa pais e aluno, pois desde sua estreia é marcado por instabilidades e incertezas.

 

 De acordo com Jair dos Santos Junior, conselheiro da Abed, um outro grande desafio do ensino a distância é a motivação dos alunos, o que pode vir a causar evasão, principalmente no ensino superior. 

A preocupação é corroborada por Vinicius Mori, graduando em Administração pela Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp. Ele relata que mesmo com a flexibilidade de poder assistir às aulas em horários alternativos, tem tido dificuldades em manter o compromisso com as aulas remotas, pois nunca se interessou por esta modalidade.

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"Há uma facilidade muito grande em mudar de curso ou até mesmo de universidade, sem grandes impactos na rotina do aluno", explica o professor. 

Santos Júnior acredita que um ponto positivo importante no EAD é a possibilidade mais ampla de desenvolvimento das habilidades e competências. Ele destaca que no sistema, além de ser possível gerir o tempo de uma forma melhor e com mais autonomia, em função da tecnologia da informação, não é mais necessário se prender aos mesmos professores e fontes de conhecimento. "A janela do nosso mundo passa a ser os nossos equipamentos", enfatiza.

Para o professor de matemática Fabrício de Paula, o que está acontecendo indica que no pós pandemia "a dinâmica de sala de aula vai mudar". Metodologias ativas, ensino híbrido e sala de aula invertida são exemplos de temas que passaram a ser o centro das discussões sobre ensino e aprendizado. "A gente pode pegar o melhor dos dois mundo e construir algo melhor do que vinha sendo feito", pontua o professor. Segundo ele, os ganhos vão ficar mais evidentes com a utilização de tecnologias, desde que haja uma garantia de acesso para todos.

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"Ela preenche peças nesse quebra-cabeça que vão dar uma dinâmica muito mais fluida e abrangente para sala de aula pós pandemia", completa. 

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Matéria produzida por Beatriz Bertelli

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