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Bombardeados

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Como lidar com o desafio de estar bem informado manter a saúde mental?

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Mulher triste:Psicóloga aponta que cansaço mental pode sinalizar necessidade de ajuda profissional. Créditos: Kat Jayne no Pexels  

Desbloqueia. Puxa a barra de notificações. Checa os apps de notícia. Abre Facebook. Link embaixo de link, informação atrás de informação. Rola o feed do Twitter. Pandemia, corrupção, influencers, reality shows e causas sociais. Liga a TV. Repórteres trazendo as últimas informações do Palácio do Planalto, comentaristas dividindo opiniões. Abre o WhatsApp.  Mensagens da semana, vídeos (não tão) engraçados e política resumida em imagens. Te soa familiar?


Dados divulgados pela Eset (Enjoy Safer Technology) em maio de 2018 mostraram que 53% dos brasileiros passam mais de seis horas voltados às telas eletrônicas. Na média geral, as pessoas passam cerca de nove horas conectadas, conforme levantamento realizado pela Hootsuite e We Are Social. No que se refere à permanência em rede, o Brasil fica atrás apenas da Tailândia e das Filipinas.

Os números assustam — e com razão. As horas passadas em frente a celulares, tablets e computadores são, muitas vezes, improdutivas. Poucas vezes usada para a educação, cultura ou informação de qualidade, a internet está cada vez mais repletade conteúdos superficiais, boatos, textos de pouca relevância e claro, memes. 

 

O hábito de desbloquear a tela do celular o tempo todo está relacionado com uma síndrome que possui uma sigla conhecida entre os mais jovens. É o FoMo (Fear of Missing out) — ou, em português, o medo de estar perdendo algo. Por isso a necessidade de checar notificações e feeds infinitos a todo momento. E o costume de acessar as redes sociais de poucos em poucos minutos provoca alterações em nosso comportamento.

 

Além do FoMo, há também um outro conceito relacionado à tecnologia. Proposto pelo escritor Alvin Toffler, o Future Shock sugere que angústia e estresse são causados pela incapacidade das pessoas lidarem com a velocidade das transformações tecnológicas. “Nós chamamos esse fenômenos de sobrecarga de informação, e essas mudanças também geram problemas sociais”, esclarece a psicóloga Yasmin Missono Ceccato.

 

Os danos provocados pelo excesso de informação vão além do indivíduo.

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Homem irritado:Professor de jornalismo indica que opinião está dominando discussões em meio ao fluxo atual de informação. Créditos: Oladimeji Ajegbile no Pexels 

Mundo digital

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“Quando informação está a serviço da manipulação, a sociedade se encontra em estado de angústia. Isso permeia não só pela vida pessoal como também coletiva”, aponta o jornalista e professor universitário Belarmino Cesar Guimarães Costa, doutor em educação pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Yasmin alerta ainda para outro problema: o cérebro humano tem dificuldade de processar informações em grande quantidade. “Dores de cabeça, sentimento de esgotamento físico e psicológico são sinais de alerta. Também é preciso se atentar à dificuldade de se desligar das redes sociais.”

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“A tecnologia está aqui para nos auxiliar, não atrapalhar”  - Yasmin Ceccato

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Celular: Mais da metade dos brasileiros ficam conectados durante pelo menos seis horas por dia, aponta pesquisa. Créditos: Adrianna Calvo no Pexels

Nunca antes na história da humanidade houve tanta informação disponível. Segundo Costa, a produção de conteúdo foi se transformando ao longo dos séculos até chegar à comunicação digital. “Houve um tempo em que a informação circulava de forma restrita. Na Idade Média, não era possível ter conhecimento das obras de Aristóteles, por exemplo”.

Livros, jornais e a internet como conhecidos hoje permitiram que conteúdos fossem multiplicados. “Agora, as informações são sobrepostas umas às outras. O fluxo atual, cada vez mais intenso, está construindo uma sociedade na qual a opinião impera”, aponta o professor.

Com o tom opinativo se sobrepondo ao conhecimento aprofundado do assunto, fica difícil entender se uma comunicação disponível é de fato relevante — e isso também  gera ansiedade. “De certa maneira, estar bem informado é até mesmo colocado como uma chave do sucesso para as pessoas. E a gente traz isso para o nosso pessoal, a fim de se adaptar às necessidades do mundo moderno”, argumenta a psicóloga.

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“Hoje existe uma certa exigência, até mesmo no mercado de trabalho, dos profissionais estarem sempre bem informados” – Yasmin Ceccato

Então, o grande dilema é: como usar a internet de forma positiva?


O volume de dados gerados passou de 998 Exabytes em 2010 para 40.000 Exabytes em 2020, conforme divulgado pela Open Knowledge em setembro de 2017. Isso significa que o mundo digital vai somar 40 trilhões de gigabytes de dados disponíveis ainda neste ano.

 

“São 400 horas de vídeos enviados para o YouTube a cada minuto. Vinte e nove milhões de mensagens trocadas no WhatsApp por minuto. O volume de conteúdo gerado é muito grande, vai além da capacidade humana de consumir tudo”, explica a psicóloga. Possuir mais acesso à informação do que gerações anteriores é, de fato, um privilégio. Mas como consumir tantos conteúdos de forma consciente?


O primeiro passo, de acordo com a psicóloga, é limitar o tempo de uso de celulares e eletrônicos. “Duas horas por dia devem ser o suficiente para se atualizar sem prejudicar a saúde mental”. Ela também sugere escolher um dia da semana para ficar totalmente offline. 

 

Além disso, Costa, que ensina jornalismo, recomenda separar um momento para se dedicar à leitura completa de conteúdos mais extensos, a fim de estimular a compreensão do assunto.

 

“Para consumir informação de forma consciente, é muito importante levar em conta o formato do conteúdo. O meio impresso, hoje já adaptado no formato digital, costuma se aprofundar mais no tema. O ato de ler estimula a construção de um pensamento crítico”. Em contrapartida, conteúdos passados por meio de imagens e movimentos, de acordo com o professor, afetam a percepção sobre o assunto, porque estimulam outros sentidos.

Manter o equilíbrio requer o estabelecimento de limites

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Thaís Siriani, 19, estudante de publicidade e propaganda, se preocupa com o tempo dedicado ao consumo de informações. Como estratégia de defesa, ela separa um tempo para se inteirar das novidades que estão mais em alta. “Não sou do tipo de pessoa que está lendo notícias a todo momento. Tentei criar esse hábito, mas com o passar do tempo fui ficando mais ansiosa. Então, acabei parando um pouco”, relata.

 

A jovem explica que não se deixa levar pelas notificações de aplicativos e costuma navegar pelas redes sociais para encontrar os tópicos de maior relevância. “Assim, procuro me aprofundar e ler por completo em sites externos [de notícia]”, conta.

 

Segundo Ceccato, a forma como uma informação chega até o leitor e produz sentidos e significados é muito pessoal. “Só você sabe a intensidade que essas questões te tocam. Por isso, estabelecer limites no consumo de informações é relativo para cada indivíduo. O objetivo é sempre manter o equilíbrio”, explica.

 

A psicóloga alerta que é hora de procurar ajuda profissional quando há o agravamento de um quadro de ansiedade e comportamentos que levam a uma tomada de decisão errada. “Se está começando a atrapalhar a rotina de trabalho, vida social e pessoas ao redor, é momento para buscar auxílio psicológico para que isso não evolua para o aparecimento das síndromes tecnológicas”.

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“A gente precisa recuperar o controle da nossa saúde mental”. — Yasmin Ceccato

Também estudante de publicidade e propaganda, Ellen Rodrigues, 21, procura moderar a quantidade de informações que consome. “Costumo me informar, em média, duas vezes ao dia. Geralmente, vejo alguma manchete no Facebook e aí corro para um site de confiança”, afirma.

 

A jovem acredita ter uma rotina razoável para se informar. “Tá todo mundo ansioso, e eu também sou bem ansiosa. Para eu não ficar muito inquieta, reduzo a quantidade de atualizações no dia. Mas que dá vontade de ficar o dia todo procurando notícias,dá.”

 

Ellen afirma que as informações relacionadas à pandemia chamaram atenção. Conta que no início da quarentena ficou acompanhando o número de casos confirmados. “Não parava de subir, e as notícias de política também começaram vir à tona com mais frequência. Foi bem difícil e eu resolvi evitar ficar me atualizando a todo momento”.

 

Para a psicóloga, durante a pandemia do novo Coronavírus há uma produção desenfreada de conteúdo que busca sanar inseguranças. “Mas, às vezes, acaba acontecendo o efeito inverso. A pessoa pode até achar que tem determinada doença só porque fez uma busca superficial no Google. Isso tudo gera um aumento de estresse”, aponta.


Ellen diz restringir o uso de celular para não ficar tanto tempo à toa rolando feeds infinitos. “Só deixo as notificações do WhatsApp acionadas por conta do meu trabalho. Instagram, Facebook e as demais eu desativo”, diz.

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Mulher cansada: Volume de informação gerado vai além da capacidade humana de absorver tudo. Crédito: Pexels

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“O ser humano vem sentindo a diferença entre estar e ser conectado”

(Yasmin Ceccato)

Ceccato também destaca a importância de ficar atento a pessoas próximas, com as quais se convive no dia a dia, para identificar se não estão afetadas pelo excesso de informações. Caso haja sinais neste sentido, a dica é intensificar atividades de convívio. “Pense em atividades que vocês gostam de fazer juntos e as faça com maior frequência. Outra orientação é dar espaço de fala para essas pessoas, que muitas vezes procuram preencher algum tipo de vazio no consumo excessivo de conteúdos”, explica. O maior presente que a gente pode dar a alguém que tem dificuldade de se desconectar é estar presente” (Yasmin Ceccato)

Ter acesso à informação não significa estar informado

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Belarmino Costa aponta a globalização e a interação indireta como uma das principais características da comunicação digital. “A falta de conhecimento sobre a origem, o contexto e o processo das informações levam a uma sociedade de desinformação”.

 

Contraditório? Para o professor, sim. “Da mesma maneira que o progresso tecnológico entre os séculos XVII e XIX nos levaria a uma sociedade de abundância e equilíbrio, não há relação direta entre o aumento da quantidade de informação circulando nas plataformas digitais e uma sociedade esclarecida.”

 

Para que não haja o efeito reverso, o professor sugere observar a fonte do conteúdo para se informar. “Informações anônimas, em que se desconhece a origem do conteúdo, costumam ter tom opinativo”. Nesses casos, buscar outros veículos que tratem do mesmo assunto incentiva a busca pelo contraditório. De acordo com Costa, a credibilidade de uma informação também está relacionada com o reforço de ideias por diferentes veículos.

 

Nesse sentido, Costa classifica o trabalho dos veículos de comunicação como essencial para a sociedade, já que estes partem de princípios éticos e comunitários e utilizam a informação como ponto de partida.

 

O mais importante, de acordo com o professor, é refletir sobre o tipo de conteúdo que se está consumindo. “Precisamos ficar atentos com a aceleração dos fatos e superficialidade trabalhadas por veículos sensacionalistas, porque estamos submetidos a isso”, indica.

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Matéria produzida por Bianca Martim

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