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Fake News: a era da desinformação

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Mulheres olhando o celular: na dúvida, é melhor não compartilhar.

Créditos: Isabela Padovan Balás

Com apenas uma pequena chamada, um texto e uma foto, é dessa maneira que a fake news ataca às suas vítimas: leitores que não checam a informação que recebem antes de repassar e, então, informações falsas passam a circular. O resultado disso é a desinformação em nossa sociedade, que ajudam a quebrar o pensamento crítico e o conhecimento. Atualmente, com o acesso à internet, a velocidade das fakes news é muito mais eficaz e ela atinge principalmente os usuários de redes sociais, por exemplo, do Whatsapp, Facebook, Instagram e outros.

 

O jornalista e especialista em educação midiática, Rafael Bitencourt, defende a necessidade da adoção pela sociedade da chamada educação midiática. “As pessoas precisam ter um ensinamento e aprender como se dá o funcionamento da mídia, como ela é produzida, quais são os processos que ocorrem. Isso facilita a percepção, a assimilação e discernir entre o que é errado e certo, falso e verdadeiro”, diz.

 

Bitencourt ressalta que o Brasil vive um momento de polarização, no qual as pessoas têm opiniões que acreditam ser a verdade absoluta e passam a ter facilidade em colocar isso nas redes sociais. Isso é feito a partir de uma falsa sensação de liberdade de expressão, o que na realidade, apenas gera a disseminação com velocidade.

 

Cláudia Assencio, também jornalista e especialista em educação midiática, ressalta que as fake news causem um impacto direto na vida das pessoas, em maior ou menor grau, ainda mais porque a informação é um serviço. Segundo a jornalista, pessoas são mortas por serem confundidas, houve casos no Oriente Médio de cidadãos que ingeriram o álcool por acreditar que ficariam imunes ao vírus do Covid-19 e chegaram a óbito, além de diversas outras situações.

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Como os internautas checam as informações que recebem 

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Os internautas Alexandre Castro (48) e Isabela Padovan Balás (21), contaram sobre suas experiências com o processo de identificação das fakes news. 

A estudante de psicologia Isabela Balás afirma que consome informação o tempo todo e fica atenta na hora da checagem: “antes de compartilhar qualquer coisa eu procuro ler tudo e pesquiso em diferentes sites para ver se há a mesma informação ou algo que eu possa estar perdendo”, conta ela. 

Já Alexandre Castro, corretor de imóveis, declara que é bombardeado de notícias pelo whatsapp e, que, geralmente prefere aguardar a confirmação se a notícia é verdadeira ou não por meio de sites que realizam esse serviço, antes de compartilhá-las. 

Pesquisa do Monitor de Debate Político no Meio Digital, órgão da USP (Universidade de São Paulo), realizada em 2019, constatou que 43% da informação que as pessoas recebem vêm de aplicativos de mensagens, 62% dos brasileiros já acreditaram em alguma notícia falsa e 8% das pessoas se acham capazes de averiguar uma fake news. 

 

Jovem mexendo no celular.

Créditos: Isabela Padovan Balás

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Como surgiram as fake news e o seu conceito

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O poder de convencimento dessas notícias inventadas é maior em populações com menor grau de escolaridade e que dependem das redes sociais para receber informações. Mesmo assim, as fake news também podem atingir pessoas com mais estudo, uma vez que o conteúdo está comumente ligado a assuntos políticos.

 

O termo ganhou destaque em 2016, com a eleição presidencial dos Estados Unidos, época em que conteúdos falsos sobre a candidata Hillary Clinton foram compartilhados pelos eleitores do atual presidente Donald Trump.

 

Apesar de parecer recente, o conceito desse tipo de conteúdo falso existe desde séculos atrás e não há uma data oficial de origem. A palavra “fake” também é relativamente nova no vocabulário, como afirma o Dicionário Merriam-Webster. Até o século XIX, os países de língua inglesa usavam o termo “false news” para se referir aos boatos que circulavam.

Muito antes de o trabalho jornalístico ser prejudicado por elas, escritores já espalhavam informações inventadas sobre seus desafetos por meio de comunicados e obras. Anos depois, a propaganda tornou-se o veículo utilizado para espalhar dados distorcidos para a população, o que ganhou força no século XX.

 

No Brasil, o Caso Escola Base se tornou um dos maiores exemplos dos perigos de uma notícia falsa, mal apurada, e de como ela pode prejudicar a vida de uma ou mais pessoas. O caso começou em março de 1994, em São Paulo. Os donos de uma escola infantil, o motorista do transporte escolar e um casal de pais de um aluno, foram acusados por duas mães de abuso sexual. 

 

A jornalista Cláudia Assencio observa que as fake news têm grandes impactos no trabalho jornalístico e que a sociedade vive uma fase em que se desacredita do jornalismo sério e até mesmo da ciência. 

 

 

 

 

 

Ela lembra também da quantidade de projetos de comprovação se um notícia é fake ou se realmente ocorreu que existem atualmente. “Se a gente pensar que hoje as redações precisam direcionar esforços na checagem se uma notícia que já foi
publicada é fake ou fato, a gente tem que parar para pensar um pouquinho o que que está acontecendo com a nossa comunicação, com o nosso jornalismo e como ele chega o público”.

 

Hoje existem vários projetos que ajudam a população a checar se aquilo que chega até ela é realmente verdade ou não. O “projeto comprova”, o “fato ou fake”, a “agência lupa”, exemplo, na opinião de Cláudia exercem um trabalho meticuloso e necessário. Mas ela ressalta: “Se a gente parar pra pensar um pouquinho, esse trabalho é declaratório do que nós estamos vivendo quanto à desinformação”.

 

Sobre o trabalho jornalístico em sí, a profissional pontua que o jornalismo deveria apenas divulgar notícias e completa: “Quando a gente fala no termo ‘fake news’, ele já é um termo bastante contraditório porque se é fake, não é news. Se é fake, não é notícia. Então, por aí a gente já começa a pensar no termo fake News em si e eu acho que a resposta vem a cavalo. Eu acho que nesse momento nós estamos mais desinformados do que informados”.

“Ao mesmo tempo que a gente tem um acesso muito mais facilitado à informação, comparado a outros tempos, ela pode não ser real, pode não ter credibilidade, pode não ter sido feita nos moldes de um jornalismo sério e de credibilidade”, explica. 

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62% dos brasileiros acreditam em notícias falsas e apenas 8% analisam uma fake news.

Créditos: Isabela Padovan Balás

O termo fake news é utilizado para referir-se às “notícias falsas”, ou seja, tudo aquilo que é criado, inventado e distorcido.  São informações falsas publicadas por veículos de comunicação normalmente não confiáveis como se fossem informações reais. Em sua maior parte, são criadas e divulgadas com o objetivo de prejudicar uma pessoa, geralmente figuras públicas, ou um grupo.

As fake news espalham-se rapidamente, por isso é preciso ter muito cuidado ao se compartilhar uma notícia em redes sociais. Elas apelam principalmente para o emocional de quem as lê, fazendo com que as pessoas consumam o material “noticioso” sem confirmar se é verdadeiro ou não.

Essas “notícias” em sua maioria vão conter títulos atraentes e até mesmo apelativos, criados para chamar a atenção e garantir maior quantidade de cliques e de leitura. Estando ligadas também ao sensacionalismo, são exageradas e têm o propósito de manipular pessoas.

 

Pandemia

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Equipamentos de proteção

No contexto da atual pandemia, ganhou destaque também o termo “fake news do bem”. Para estimular as pessoas a ficarem em casa, obedecerem as regras da quarentena, não faltaram memes “informando” sobre a perda de aposentadoria, multa e até mesmo prisão. Essas foram algumas das várias ameaças feitas aos idosos nos últimos meses, com informações falsas, e são bons exemplos dessa nova categoria de desinformação.

 

Com a desculpa de que a mentira é para um bem maior como proteger seus familiares que fazem parte do grupo de risco, muitos compartilham esse tipo de conteúdo em suas redes sociais e até defendem que neste caso “vale a intenção”.

 

Mas, Claudia discorda. Reforça que não existe “fake news do bem” e completa: “Quando alguém ou um grupo decide veicular uma notícia falsa, essa notícia já nasce criminosa. Não tem como ser algo de boa intenção.”

 

Bittencourt também critica a nova modalidade: “Da mesma forma que eu não acredito que há mentira do bem, eu não acredito que há fake news do bem.” O jornalista fala ainda que as fake news do bem podem causar uma sensação de tranquilidade no início, mas pioram a situação depois.


Notícias milagrosas como a cura ou imunidade para o coronavírus, remédios que podem ajudar ao combate ou até mesmo o poder da hidroxicloroquina, mesmo contra a indicação do Ministério da Saúde, têm circulado com intensidade em redes sociais. Essas desinformações não possuem fundamento científico e atrapalham a circulação de notícias verdadeiras e as orientações das autoridades.

 

Na dúvida é preciso desconfiar, não acreditar e não repassar informação. É importante buscar informação nos sites da OMS (Organização Mundial de Saúde), da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde), braço regional da OMS, do Ministério da Saúde e das secretarias municipais e estaduais de saúde. Estes órgãos são responsáveis por cuidar da saúde da população, orientar e o fator principal: informar por meio de estudos e de profissionais da área.

 

Para combater as fake news, o Ministério da Saúde abriu uma página exclusiva para a checagem de informações ou tirar dúvidas. Os cidadãos podem enviar mensagens ao Whatsapp ou verificar a própria página para averiguar os boatos que foram desmentidos sobre o Covid-19. Qualquer mensagem vinda da população é checada
pela área técnica e respondida oficialmente se é verdade ou mentira.

 

As fake news colocam a vida de pessoas em risco e, no limite, podem levar à morte. Segundo a Irna (Agência de Notícias da República Islâmica), do Irã, 27 pessoas morreram no país intoxicadas após ingerirem álcool adulterado por terem acreditado em uma fake news, no qual se afirmava que as bebidas alcoólicas ajudavam a curar o novo coronavírus.

 

A Organização Mundial da Saúde nomeou esse fenômeno de “infodemia” – quantidade excessiva de informação, sendo precisas ou não, que dificultam a procura por fontes confiáveis. Ou seja, são tantas notícias, verdadeiras ou não, que a população não sabe por onde procurar informações.

 

Mas por que as notícias falsas ganham mais intensidade na pandemia? Segundo a jornalista Claudia Assencio, é porque as pessoas estão mais vulneráveis.

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“Quando vemos uma notícia que aponta para o nosso emocional, nós temos muito mais tendência a replicá-la. Se não tivermos cautela, a tentação de replicar nessa fase é muito maior. Essa é uma das intenções da fake news: ir ao encontro das nossas fragilidades”, conclui.

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Matéria produzida por Fernanda Rizzi e Lauren Milaré

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