A pandemia nas lentes do fotojornalismo
Registros captam histórias de vida e são essenciais para entender a Covid-19
Quando o fotógrafo Nick Ut fotografou uma menina Vietnamita em chamas fugindo da destruição das bombas ele registrou a história. Anos depois muitos não vão lembrar de textos ou mesmo sobre o contexto geopolítico da época, mas irão lembrar dessa foto e associá-la ao conflito e a tristeza em torno dele. Quando um vírus muda nossa época e potencializa tudo em nossa sociedade imagens valem mais que mil palavras e registrar suas marcas se torna um desafio para os fotojornalistas.
“A gente precisa da foto, uma foto importante, plástica. Depois que adrenalina abaixa você pensa nos lugares onde foi e os riscos que correu”. A fala do fotojornalista Felipe Iruatã mostra a necessidade de registrar esse período, mas anuncia também o risco envolvido nesta ação, pois fotografar muitas vezes significa ter de se colocar ao lado do perigo, agora invisível e transmissível.
Fotojornalista há dez anos, André Rodrigues destaca as mudanças no cotidiano de sua atividade em função do Coronavírus. Os cuidados afetam desde a escolha pelo uso de lentes teleobjetivas, para capturar de mais distância, até a parte de higienização das roupas e equipamentos. Para muitos profissionais, entretanto, os desafios são maiores e as mudanças drásticas, como no caso do fotojornalista Ricardo Moraes, da Reuters. “Hoje a maior mudança foi sair de casa pelo medo de infectar meus filhos”, conta. Porém existem outros riscos que nem mascaras ou a higiene poder impedir, os fotógrafos também tem enfrentam a hostilidade por parte da população contrária às medidas de saúde pública.
Apesar dos riscos esse período tem servido para reafirmar a utilidade pública desse trabalho, seja dando a dimensão dos problemas ou no combate às fake news como destaca Moraes. “É a reafirmação do jornalismo como serviço essencial, como informação confiável, defensor da ciência, da saúde e dos direitos humanos”.
Impossível de ser capturado pelas lentes o vírus mostra que o maior personagem dessa história é a humanidade e suas mazelas e é para lá que as câmeras estão apontadas. “A Covid potencializou feridas. É um iceberg, embaixo tem muita coisa, vulnerabilidade, miséria, questão psicológica. Temos que seguir fotografando”, explica Iruatã.
A imagem pode ser de uma longa fila para receber o auxílio passando ao lado de um lixão, uma reintegração de posse em meio à quarentena, uma simples mudança nas peças penduradas em um varal. Em todas essas situações fotografar está exigindo ainda mais sensibilidade, sagacidade e criatividade.
“Nunca vamos registrar ele, vamos registrar por onde ele passa. É como registrar um monstro. Todo mundo estava dormindo ele passou pela rua e destruiu um monte de coisa e você só vai saber o que ele causou seguindo o seu caminho”, diz o fotojornalista Gabriel Albertini.
E em meio aos diversos registros existem vidas, que se vão e outras que ficam e o fotojornalista tem de estar lá. Isso exige o contato direto com parentes de vítimas. “A abordagem a aproximação, são pesados, talvez seja o momento mais difícil como profissional”, afirmou Moraes.
As redes sociais ganham ainda mais importância na pandemia
Já importantes para os fotógrafos antes da pandemia as redes sociais ganharam ainda mais relevância. Com todos em casa acompanhando os acontecimentos, fotos impactantes têm atraído o olhar do público para os perfis dos seus autores.
Outro movimento que vem acontecendo é o surgimento de perfis que reúnem diversos fotojornalistas e seus trabalhos na pandemia, como o “Covid Photo Brasil” (@covidphotobrasil).
Os profissionais também relatam a que estão sendo mais procurados para entrevistas. André Rodrigues ressalta toda importância das redes sociais nesse momento. “Lojas dos mais diversos setores passaram a utilizá-las para vendas e não é diferente com o mercado fotográfico. Lá você pode mostrar o seu serviço para milhares de pessoas”, observa.
Para além do reconhecimento e do mercado, as redes sociais servem para trazer dinamismo e novas formas de expor, dando mais liberdade para o fotógrafo. Através do “story” ou da possibilidade de postar um conjunto de fotos a história não precisa ser resumida em uma foto apenas, como relata Albertini: “Gosto de contar uma história com fotos que fazem sentido em conjunto”.
Alguns “instagrans” com excelentes fotos sobre esse momento:
https://www.instagram.com/covidphotobrazil/?hl=pt-br
https://www.instagram.com/gabrielalbertini_/?hl=pt-br
https://www.instagram.com/ricardomoraesrm/
https://www.instagram.com/manndrade/
https://www.instagram.com/fabioteixeira3762/
https://www.instagram.com/felipe.iruata/
https://www.instagram.com/a_coelho/
https://www.instagram.com/amandamperobelli/
https://www.instagram.com/alesuplicy/