top of page
LOGO-REVISTA-CONEXAO-VAZADO-COLORW.png

Pandemia realça desafios ambientais

CONEXAO-SETA-VERDE.png

Cenário muda nas cidades com redução da poluição e novos

hábitos de consumo

A pandemia da Covid-19, que impôs o isolamento social e diferentes formas de quarentena, alterou de modo profundo a vida das pessoas e o funcionamento das cidades no país. Um dos setores que registra mudanças significativas nos seus indicadores é o meio ambiente.

 

Segundo dados da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), houve uma redução de 50% de monóxido de carbono e óxidos de nitrogênio na cidade de São Paulo durante as primeiras semanas de isolamento social. Entre os motivos para esta redução estão o fechamento de fábricas, de alguns tipos de comércios específicos e a diminuição no número de veículos em circulação. O resultado foi, portanto, a diminuição da poluição do ar.  

De acordo com o biólogo Fábio Vitorino, a emissão deste tipo de gás, quando em alta concentração, pode causar o desequilíbrio de vários ciclos dentro do ecossistema das pessoas, sejam eles na terra ou no mar. “Este aspecto que estamos enfrentando hoje, durante a pandemia, pode nos ensinar várias coisas além da diminuição da poluição do ar, começando por uma paisagem urbana mais limpa, com menos poluição sonora e visual, além do estresse cotidiano. Isso nos leva a pensar em meios mais sustentáveis para a locomoção”, pontua Vitorino.

Rio e Sp - 2019 e 2020.jpg

Imagens de satélite registram a poluição em São Paulo e no Rio de Janeiro entre março e abril de 2019 e 2020. Foto: Diego Hemkemeier Silva/ G1

Imagens_de_satélite_da_Nasa._China_qua

Imagens de satélite da Nasa que retratam a diminuição da poluição da China durante o isolamento social.

Para o jornalista ambiental e especialista na área, José Pedro Martins, o modelo de ‘desenvolvimento’ que vinha sendo dominante no planeta é muito perigoso, pois estava colocando em risco os fluxos da natureza e as fontes de vida para todos, inclusive para os humanos. Alguns exemplos citados por ele são: a invasão acelerada dos habitats naturais, a destruição dos ecossistemas como as florestas tropicais, o uso irracional da água, a irracional concentração populacional, a erosão da biodiversidade, a escalada das mudanças climáticas – tudo isso em um ritmo veloz e avassalador. 

Segundo Martins, no caso específico das pandemias, as evidências científicas são de que muitas delas são resultado desse conjunto de impactos deste modelo. São vírus encontrados na natureza, que acabam entrando em circulação na vida humana pela invasão de seus espaços.

 

O jornalista ressalta que relatório “Fronteiras 2016”, do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), sobre questões emergentes de preocupação ambiental (Frontiers 2016 Report on Emerging Issues of Environment Concern, em inglês), já advertia para as ameaças de zoonoses ao desenvolvimento econômico, o bem-estar animal e humano e a integridade dos ecossistemas. 

O relatório cita doenças zoonóticas emergentes apenas na história recente, que causaram ou ameaçaram causar grandes pandemias, como o Ebola, a gripe aviária, a febre do Vale do Rift, a febre do Nilo Ocidental e o Zika Vírus. 

CONEXAO-SETA-VERDE.png

“Especificamente com relação à Covid-19, as evidências são, sim, de um vírus de origem zoonótica, ou seja, saiu de alguma forma da natureza”, afirma o jornalista.

Durante o isolamento social, por outro lado, algumas situações até inusitadas começaram a ser registradas. Em Veneza, animais foram vistos nos canais e as águas se tornaram cristalinas, algo incomum com o turismo extremo que ocorre na cidade. Na Ásia, foi possível enxergar a cordilheira do Himalaia a 200km de distância pela primeira vez em 30 anos devido a diminuição da poluição. No País de Gales, cabras e bodes passearam pelas ruas. 

São situações que só se tornaram possíveis diante das circunstâncias atuais que o planeta vive e que, para o biólogo Fábio Vitorino, podem ter impactos positivos e negativos.

 

Para ele, a “visita” de animais silvestres às cidades está ligada a interferência do ser humano em seus habitats naturais. Uma vez que existe a exploração por recursos em locais como a mata atlântica e outros tipos de florestas (desmatamento, na maioria dos casos), os habitats de animais que são endêmicos daquela região são fragmentados e consequentemente impulsionam estes a procurarem alimento em outros lugares. 

CONEXAO-SETA-VERDE.png

“É algo que pode ser negativo para o ser humano, uma vez que estes animais podem estar infectados com algum tipo de doença, se envolverem em algum atrito com as pessoas e dar início a uma zoonose (doença transmitida do animal para o ser humano e vice-versa)”, explica Vitorino.  

Já a respeito de mudanças como em Veneza, da Cordilheira do Himalaia e até mesmo das noites estreladas de São Paulo – possível pela diminuição da poluição – a sensação, segundo ele, é de restauração da natureza ao nosso redor, onde existe uma diminuição da interferência do homem e suas máquinas. “Essas notícias são eficazes quando pensamos no rumo que as coisas estão tomando, despertam a curiosidade e a esperança de dias melhores. Mas o mais importante é que elas também nos inspiram a melhorar nossa relação com a natureza e nos conscientizam”, ressalta.

Himalaia - Foto TW @TrailMagazine.jpg

Foi possível enxergar a cordilheira do Himalaia a 200km de distância pela primeira vez em 30 anos. Isso ocorreu devido a expressiva diminuição de veículos na região.

Foto: TW @TrailMagazine

Consumo

CONEXAO-SETA-VERDE.png

Segundo dados do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), o consumo de energia já registra uma redução significativa em 2020, devido principalmente às restrições de funcionamento nas atividades industriais e comerciais. 

O estudante universitário Eric Leoni, 22, conta que em sua casa o consumo de energia elétrica aumentou, mas o uso do carro diminuiu significativamente, enquanto os gastos com água e gás se mantiveram. Ele afirma que após a pandemia vai repensar a relação com o consumo sustentável e pretende reduzir a quantidade de lixo que produz. 

Já para a professora aposentada Cleusa Silveira, 71, o consumo de gás e consumo de alimentos aumentou, assim como de eletricidade. “O consumo de energia elétrica está um pouco maior na quarentena, porque estamos em casa com a televisão ligada, abrindo mais a geladeira, usando mais o forno elétrico, o micro-ondas. O consumo de água também aumentou, estou lavando mais roupas. Apesar disso, o que estamos consumindo não é nada exagerado e está dentro do nosso limite”, explica. 

Segundo o Secretário de Defesa do Meio Ambiente de Piracicaba, José Otávio Menten, a cidade registrou uma redução de 8% na qualidade de resíduos domésticos coletados, e também uma diminuição na quantidade de recicláveis coletadas pela prefeitura. O serviço de cata cacareco registou queda de 24% e a coleta de entulho de 28%. 

CONEXAO-SETA-VERDE.png

“Há perspectivas do aumento do comércio de recicláveis por catadores informais. Com a maior utilização de produtos embalados (papelão) e maior desemprego, esta é uma atividade que tende aumentar, incluindo também de latas e vidros”, informa o secretário.

País de Gales (1).jpg

Um rebanho de bodes e cabras anda pelas ruas de uma cidade no País de Gales. A atitude dos animais ocorreu devido às medidas de isolamento social contra o novo coronavírus. 

Foto: Pete Byrne/PA via AP

Economia de Francisco é esperada de novos dias

CONEXAO-SETA-VERDE.png

A questão do consumo excessivo preocupa muitos setores, entre os quais o papa Francisco, que lançou, logo no início do seu pontificado o movimento Economia de Francisco, que tem como objetivo estimular o consumo consciente e novas formas de distribuição da riqueza no mundo.

 O movimento possui um núcleo na cidade de Piracicaba, integrado por cidadãos comuns e profissionais de diversas áreas do conhecimento, entre os quais Flávia Mengardo Gouvêa, formada em Relações Internacionais, com MBA em Gestão de Negócios e mestranda em história.

Índia_-_Rene_Perez_Massola.jpeg

 No litoral da Índia, mais de 300 mil tartarugas marinhas chegaram a costa devido a tranquilidade ocasionada pelo isolamento social. Essas tartarugas são da espécie Olive Ridley - ameaçada de extinção.

Foto: Rene Perez Massola

Flávia explica os propósitos do movimento: “A ideia da Economia de Francisco é repensar ou realmar a economia, pensando em um novo sistema econômico. Nós estamos em um sistema liberal capitalista que destrói o meio ambiente, que força às pessoas a um trabalho exaustivo para poucos ganhos, que deixa fortunas enormes nas mãos de poucos que cada vez ficam mais ricos, porque o dinheiro vai rendendo ao invés de sair em circulação e ser investido de fato para que todos tenham o ganho dele”. 

A proposta do papa Francisco era reunir jovens profissionais do mundo inteiro em novembro deste ano, na cidade de Assis, na Itália, mas o encontro precisou ser adiado em função da pandemia do Coronavírus. OVID-19. Segundo Flávia, que deverá participar do encontro, o evento não é o começo, nem o meio e nem o fim, ele é um processo para repensar a economia e colocar ações em práticas.

Veneza - Manuel Silvestri - Reuters (1).

A redução de barcos e gôndolas em Veneza deu lugar a um fenômeno para a natureza. As águas ficaram cristalinas e mais limpas, o que trouxe peixes e cisnes de volta. Algo incomum com o turismo extremo que ocorre regularmente na cidade. 

Foto: Manuel Silvestri - Reuters

Uma das bases do movimento é a de que se a desigualdade é fruto da política, ela pode ser transformada. “Eu penso que a pandemia e o vírus trouxeram consigo a questão da Economia de Francisco muito à tona, porque antes a gente pensava em realmar e mudar a economia como algo muito distante, mas idealizando e pensando na mudança”, ressalta Flávia. 

 Na opinião do jornalista ambiental José Pedro Martins, os sistemas políticos e econômicos precisam ser repensados. Ele adverte: “A pandemia deixou mais do que evidente, no caso do Brasil, como as desigualdades precisam ser superadas. Enfim, momento de muitas incertezas, mas pelo menos de uma certeza: do que jeito que estava não dá para continuar. A retomada da chamada normalidade não pode ocorrer com o mesmo status quo de antes”. 

África_do_Sul.jpg

Com ausência de turistas no Kruger National Park na África do Sul, leões aproveitaram para dormir no meio de uma estrada.  Foto: Reprodução

LOGO-REVISTA-CONEXAO-VAZADO-PB.png
WhatsApp%20Image%202020-06-23%20at%2017.

Matéria produzida por Carolina Piazentin

foto_edited.jpg
bottom of page